Cisterna foi pintada e sua água é captada através da casa de sementes
por Catarina de Angola
Em abril, o Projeto AGREGA – Agroecologia com Energias Alternativas realizou um intercâmbio de experiências com curso de implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs), no povo indígena Xukuru do Ororubá, em Pesqueira, Agreste de Pernambuco. O território é composto por 24 aldeias em mais de 27 mil hectares. O curso na aconteceu na Aldeia Couro Dantas, na área do Centro de Agricultura Xucuru de Ororubá – Caxo da Boa Vista, e foi um momento de troca e de muito aprendizado sobre agroecologia, mas também de maior conhecimento da equipe do projeto sobre as atividades já realizadas.
A iniciativa do AGREGA na comunidade também propiciou a construção de uma cisterna de placas de 72 mil litros de capacidade de armazenamento de água das chuvas, coletava através do telhado da Casa das Sementes Mãe Zenilda, que funciona como um centro de formação onde se trabalha com sementes, formação em práticas agroecológicas, gastronomia tradicional, sistema tradicional de cura e que abriga também uma biblioteca.
“Esse espaço funciona como um centro de integração, onde trazemos as pessoas e elas vem com seus saberes. A casa das sementes já vem sendo usada na perspectiva de fortalecer e dar visibilidade a esse modelo de agricultura que a gente denomina modo de vida, agricultura do sagrado, a gente compreende que há uma riqueza cultural de práticas e saberes muito complexa e que essa riqueza de práticas e saberes e conhecimentos é a base da cosmovisão do povo Xucuru. E nós chamamos a agricultura do sagrado por causa dessa relação íntima com a natureza”, explica Iran Neves, um dos integrantes do Coletivo de Agricultura.
Casa das Sementes Mãe Zenilda e a cisterna de 72 mil litros
A cisterna de 72 mil litros foi implementada com a perspectiva de contribuir com a agricultura tradicional do povo Xucuru, fomentando também processos agroecológicos, como foi também a implementação do SAF durante o curso. Além disso, a água armazenada na cisterna proporciona uma maior autonomia da comunidade em relação a uso e na sua gestão nos afazeres da Casa de Sementes, mas também na horta comunitários, entre outros. O AGREGA também apoia no local a instalação de equipamento fotovoltaico para produção de energia solar e a aquisição de uma forrageira elétrica, que contribuirá para produção de coberturas orgânicas nos Sistemas Agroflorestais (SAFs).
“O projeto é extremamente importante para nós, ele vem em um momento que estamos materializando a agricultura do sagrado, que promove a cultura do encantamento”, comenta Iran. Ele também destaca o processo metodológico de implementação do projeto. “A proposta do AGREGA não traz algo pronto, mas algo para ser construído com os grupos. E no nosso caso, com o povo indígena, no sentido de fortalecer o que nós estamos fazendo. É uma iniciativa que vem pra fortalecer aquilo que já vem sendo feito e isso é extremamente importante”.
O Caxo da Boa Vista faz parte de um complexo religioso, uma área de mata que é o terreiro do ritual indígena Xucuru, onde se desenvolve o trabalho da religião e da espiritualidade. Ou seja, um espaço em que não está pensada apenas uma agricultura de produção, mas uma agricultura como modo de vida e que valoriza e protege a diversidade biológica no território. E o espaço do Caxo da Boa Vista, está sobre os cuidados dos Coletivo da Agricultura Jupagro Kreká, o Coletivo da Juventude e o Coletivo das Mulheres. Eles são cuidadores desse espaço, onde se realiza a agricultura como modo de vida e essa agricultura produz dinâmicas sociais que movimentam o povo.
O projeto AGREGA atua no apoio a pequenos projetos decentralizados no estado de Pernambuco e geridos pelos próprios agricultores e agricultoras. As ações acontecem nos municípios de Exu, Afogados da Ingazeira, Pesqueira e Brejo da Madre de Deus. Estão sendo apoiadas iniciativas que visam o emprego da energia solar fotovoltaica na agroecologia. O AGREGA é uma iniciativa conjunta da Associação Brasilieninitiative Freiburg e.V. e do CCBA – Centro Cultural Brasil – Alemanha.