Partindo de pressupostos agroecológicos para o desenvolvimento sustentável das comunidades locais, desta vez, na microrregião do sertão de Itaparica, região do semiárido pernambucano, o projeto AGREGA tem intensificado sua atuação junto a aldeia Serrote dos Campos pertencente ao povo indígena Pankará. O trabalho vem se desenvolvendo para a criação de um centro experimental cujas frentes de pesquisa e extensão estão vinculadas a Universidade Federal Rural de Pernambuco (Campus Serra Talhada) com o financiamentos da organização alemã Atmosfair e apoios da ONG alemã Brasilien Initiative Freiburg e.V. e a coordenação do Centro Cultural Brasil Alemanha (Recife).
Dentre as atividades desenvolvidas destaca-se o sistema agrofovoltaico associado ao cultivo de melão abaixo das placas fotovoltaicas. Um dos responsáveis por este projeto é o Rafael Anchieta, concluinte do curso de Agronomia pela UFRPE – Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST), cujo projeto é o tema desenvolvido em sua monografia, a partir, também, das interações do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Práticas Agroecológicas do Semiárido, que tem sede na UFRPE-UAST (NEPPAS).
Acerca de seu trabalho, o Rafael nos explica que, “o projeto piloto da aldeia serrote dos campos prioriza a produção de alimentos orgânicos, produção de energia e preservação ambiental, – ações essas norteadas pela agroecologia. A produção de melão na área piloto, engloba essas prioridades, sendo a hortaliça produzida sem uso de agrotóxicos e sob placas solares, aumentando a eficiência de uso da terra, a qual tem como vantagem a redução da abertura de novas áreas de cultivo (desmatamento)”.
O Rafael Anchieta destaca que:
“O nosso trabalho em Itacuruba visa entender melhor a potencialidade do sistema agrofotovoltaico aqui no Brasil, bem como identificar culturas mais adequadas a esse tipo de cultivo – buscamos perceber quais as limitações e quais as formas de contorná-las. Por ser algo que está na vanguarda, há coisas que precisam ser estudadas, aquém da estrutura fotovoltaica, como a resposta de organismos espontâneas a um local parcialmente sombreado e com umidade constante (área irrigada sob as placas). Para tanto é necessário a realização de pesquisas visando aprimoramento e adequação dessa tecnologia a nossa realidade”.
Neste sentido, e reiterando a perspectiva de abordagem dos projetos desenvolvidos pelo AGREGA, o Rafael enfatiza que “outro intuito da pesquisa que estamos empreendendo na aldeia Serrote dos campos, do povo Pankará, é colocar em evidência a possibilidade de que aldeias indígenas e outras comunidades tradicionais, podem ser referência nos quesitos: inovação, ciência e sustentabilidade, – isso através da demonstração de um modelo que pode ser replicado em comunidades semelhantes, bem como na agricultura familiar”.
No tocante ao funcionamento agroecológico algumas variáveis do sistema devem ser ponderadas e definidas a partir de seu impacto para a região e de como estas afetam as características agronômicas das culturas almejadas. A esse despeito, Rafael nos esclarece que:
“No momento estamos cultivando melão sob as placas solares, cultura que deve ser cultivada recebendo luz solar diretamente, em contrapartida os painéis fotovoltaicos causam sombreamento em alguns períodos do dia. Por conta de tais peculiaridades e por ser uma cultura de grande importância no sertão de Itaparica, decidimos experimentá-la a fim de analisar o quão esse sombreamento parcial pode afetar a cultura (crescimento, produtividade etc.). Vale salientar que muitas culturas menos exigentes em luminosidade já foram testadas, e apresentaram produções levemente menores, como mostram pesquisas realizadas pela associação alemã Fraunhofer ISE, referência mundial em pesquisas com energia solar, o que é algo positivo, pois de outra maneira o solo sob painéis solares, serve, frequentemente, apenas de “tapete” para herbicidas – prática esta comum para controle de plantas espontâneas em parques solares”.
O trabalho desenvolvido na aldeia Serrote dos Campos integra desde a comunidade científica vinculada a UFRPE-UAST até a população local com trabalhadores do povo Pankará. O intuito é fomentar não somente que a experimentação seja realizada dentro deste contexto de comunidades indígenas, mas, sobretudo, atribuir à população residente o protagonismo e empoderamento de executar projetos voltado ao desenvolvimento sustentável de seu entorno.
Tal iniciativa almeja o aumento de resiliência das famílias vulneráveis às mudanças do clima na região semiárida do estado de Pernambuco e, por conseguinte, a tomada de medidas que visem a preservação do bioma Caatinga ao mesmo tempo que sua autonomia em alternativas sustentáveis de subsistência de baixo impacto ao meio.