Muito embora a temática sobre os efeitos adversos do clima, em decorrência do aquecimento global, venha sendo discutida há décadas, nestes últimos anos temos observado uma intensificação crucial na dinâmica climática em escala regional e local. O que implica dizer que os problemas relacionados a esta questão está cada vez mais próximo de nós, de nossa casa, de nossa família, e de toda uma geração.
Nesse sentido, saímos de uma visão apenas global das problemáticas climáticas para uma direcionada aos problemas locais que afetam diretamente o nosso cotidiano. No contexto das regiões semiáridas o clima é um elemento fundamental para a manutenção da vida. Os ciclos de precipitação, os meses de escassez hídrica, os tipos de cultura agrícola bem como o período de plantio e colheita são alguns dos componentes dependentes do clima e de seu ritmo. Assim, famílias inteiras vivem a partir de uma sistemática sazonal cujo conhecimento empírico baseia-se, sobretudo, na ancestralidade e aperfeiçoa-se tecnicamente com o desenvolvimento das novas gerações.
Estar consciente de seu lugar no espaço em relação ao meio global é imprescindível para compreender a importância que o desenvolvimento sustentável local protagoniza, principalmente, em áreas potencialmente suscetíveis e vulneráveis aos efeitos negativos do clima. Para tanto, medidas antecipatórias tendem a ser uma das alternativas mais viáveis para lidar com as potenciais modificações da paisagem (solo, relevo, vegetação) resultantes das alterações climáticas.
Seguindo por este caminho nos deparamos com uma alternativa que, para além do caráter ambiental, considera o escopo social o qual está inserido. Reiterando a perspectiva de um desenvolvimento sustentável que se preocupa em observar os diferentes aspectos econômico-sócio-ambiental da população local.
Assim, eis que temos a agroecologia como perspectiva de sustentabilidade para a agricultura familiar. A agroecologia preocupa-se em estabelecer estratégias de manejo agrícola sustentável dentro de um cenário onde a biodiversidade dos ecossistemas seja preservada e cuja complexidade do meio ambiente seja desenvolvida sobre uma ótica agroecológica.
Devemos ressaltar que as famílias de agricultores e os povos originários assumem um papel primordial na manutenção de tais práticas, principalmente, ao interagir os meios tradicionais de agricultura às novas tendências, por exemplo, ao introduzir agroecossistemas na produção interna de sua propriedade rural.
Uma prática que vem acontecendo no sertão do Pajeú, em Pernambuco, faz parte das ações fomentadas pelo projeto AGREGA. Onde a agroecologia é entendida enquanto um sistema complexo que contribui para a tomada de autonomia das famílias ao mesmo tempo que é um aliado contra a insegurança alimentar que acomete muitos produtores de pequenas propriedades rurais na região semiárida.
O desenho do sistema integra o manejo da piscicultura a partir da qual desenvolve-se uma irrigação por microgotejamento e, em certas famílias, a inserção do sistema de aquaponia, adicionalmente à produção agrícola individual de cada sítio. Desta forma, tem-se, efetivamente, uma preocupação global partindo de uma tomada de consciência a nível local.
Neste ponto, a piscicultura assume um papel fundamental, pois, emerge enquanto uma alternativa à insegurança alimentar e contribui para o desenvolvimento sustentável de culturas de menor impacto na vegetação do bioma Caatinga.
Abaixo alguns registros das famílias integrantes do projeto AGREGA, em Afogados da Ingazeira – PE.